Como maio é conhecido por ser o mês das noivas, não pude deixar passar a oportunidade de compartilhar uma das melhores experiências que já vivi: um casamento dinamarquês!
A religião predominante na Dinamarca é o cristianismo, onde a maioria dos cidadãos dinamarqueses se declaram como Luteranos. Ainda que a maioria se identifique como tal, não significa que o povo dinamarquês seja religioso (muito pelo contrário), mas a influência do luteranismo é bastante forte na cultura local. As Igrejas dinamarquesas são mais simples do que as outras que conheci pelo Brasil e em outros países da Europa. Elas são um tanto atemporais, como se fossem um portal no tempo. São sóbrias, não têm muitos ornamentos, algumas têm pinturas do estilo medieval nas paredes, o único instrumento musical utilizado nas missas é o órgão e as diversas músicas cantadas utilizam o idioma na forma antiga. Os padres (que podem ser mulheres) usam uma veste preta e lisa, com uma gola bufante branca que cobre todo o pescoço. Uma miniatura de uma embarcação antiga dinamarquesa pendia do teto da construção, bem no centro de uma das Igrejas que visitei. Realmente, para mim as Igrejas tradicionais da Dinamarca são uma verdadeira experiência antropológica e são popularmente chamadas de Folkekirke (Igreja do povo).
A cerimônia foi muito bonita e bastante diferente daquelas realizadas nas Igrejas Católicas do Brasil. Os rituais são diversos e, como a maioria das tradições dinamarquesas, são milenares e levados à risca. Foi num ensolarado 27 de junho de 2009, o noivo era o meu tio da família que me acolheu na Dinamarca. A atmosfera era de alegria, calma, realização, harmonia e união. Assim como nós, ao final da cerimônia os convidados esperam o casal na porta da Igreja para a tradicional “chuva de arroz”, desejando bons votos. Todos seguiram o carro dos noivos até o local do almoço e festa. No decorrer do caminho, blocos enormes de feno foram colocados à frente da casa dos noivos com os dizeres “Recém-casados (buzina)”. A festa já havia começado antes mesmo de chegarmos ao local. Chegamos então para o almoço de casamento, feito num salão de festas com um grande espaço aberto logo em frente, com vista para o verde e um pedacinho do Limfjord (fiorde que corta o norte da Dinamarca). Na parte coberta ficavam as longas mesas para os noivos e convidados, os lugares estavam marcados à mesa, à frente de cada assento havia um menu com todos os pratos a serem servidos, muitos talheres, muitas taças, tudo seguindo as normas da etiqueta. Como é o costume dinamarquês, ficamos horas sentados à mesa experimentando deliciosos pratos (na maioria locais), conversando e rindo. Posso afirmar: “bem gente como a gente”, não é mesmo? Sim! Como nós brasileiros também adoramos nos reunir para comer e conversar!
Mas peraí! O almoço de casamento não é nada calmo como aparenta ser. Não podemos esquecer as raízes vikings desse povo que agora é tão pacífico. A refeição era a todo momento interrompida por brindes e gritos de “Skål!”, discursos emocionantes e engraçados, preparados pelos amigos e familiares, com direito à vídeos projetados ao fundo do salão com fotos antigas e histórias embaraçosas. Sempre desejando longa vida aos recém-casados e gritando três ou mais vezes “Hurra!” ao final dos discursos. Um outro motivo para interrupções durante o almoço eram as músicas. O povo dinamarquês tem uma relação muito forte com a música. Em todos os eventos, reuniões e comemorações eles preparam canções especiais, por vezes compõem letras adaptadas à melodias antigas, mas o importante é que todos cantem a uma só voz e com toda a empolgação. Acreditem, é contagiante!
Mais uma tradição engraçadíssima dos casamentos diz que quando um dos noivos se levanta para ir ao banheiro, todos os convidados devem ir até o noivo que ficou sozinho à mesa e lhe dar um beijo na bochecha. Para o noivo, todas as mulheres, para a noiva, todos os homens. Mas tem que ser rápido, antes que o outro noivo chegue! Imaginem só a correria e as risadas ecoando no salão. Outro costume extremamente divertido (além da noiva jogar o buquê para as convidadas) é a perseguição da noiva na pista de dança. A mulher que conseguir rasgar um pedaço do véu da noiva terá sorte no casamento, assim como acontece com o buquê, porém com muito mais adrenalina. As atrações do dia são inúmeras, assim como todas as tradições relacionadas ao casamento, fazendo desse um dia muito especial, cheio de risadas e amor!
As cerimônias de casamento dinamarquesas podem não ser tão luxuosas e grandes como as da nossa cultura, mas a cantoria, os brindes, a dança, as conversas e as risadas durante um dia inteiro com certeza as tornam inesquecíveis.